Dicas para projetos de educação e ação ambiental
Projetos
Pedagógicos
O debate mundial desperta um chamado ante a
degradação do planeta. Professores e coordenadores de grupos são convidados a
pensar a questão num processo em que aprender junto é melhor que aprender
sozinho. Para isso, uma das boas alternativas é desenvolver um projeto
ecológico comunitário.
Organizar um projeto desafia muita gente. No
entanto, devido à multiplicidade de aspectos do tema, é preciso pensar bem a
questão, o que exige tempo e paciência. O planejamento deve considerar que vai
envolver um bom tempo. Evite restringir o trabalho a um único dia. Por melhor
que sejam as intenções, o evento pode gerar mais lixo e perturbação ambiental
que a contribuição pretendida pelos envolvidos.
Cuidar do que está próximo
A questão ambiental pede um envolvimento para toda
a vida em gestos, modo de pensar e na nossa relação com as pessoas e seres ao
nosso redor. O projeto pode mexer com conceitos arraigados do grupo e da
comunidade. Também pode contrariar interesses econômicos e políticos e
questionar valores, gerando reações inesperadas dos envolvidos.
É preciso estar preparado quanto às expectativas de
resultados. Nem sempre se vai mudar o mundo de forma radical. Se o trabalho
contribuir para mudar os envolvidos já terá um grande mérito e êxito. Mas isto
não significa que não se deva tentar.
Embora haja muito apelo para tratarmos dos temas
globais, é importante perceber que os grandes temas têm reflexos bem perto de
nós. Podemos usar tais questões mundiais, mas o assunto ganhará mais interesse
se for algo próximo dos envolvidos. A poluição das águas do planeta aparece no
arroio, igarapé, lago ou baía próximo e permite atividades concretas que são
mobilizadoras.
Tema, pesquisa, ação...
Pode-se começar com um encontro para definir o foco
da ação. É importante considerar o que mobiliza as pessoas. A liderança do
trabalho deve ser de humildade para não impor seu tema, sendo sensível para
reconhecer o que motiva o grupo. O tema pode ser muito variado, mas a definição
deve ser bem amadurecida.
Definido o tema, é preciso prever um período mínimo
de algumas semanas de ação. Comece reconhecendo o terreno e registrando a
situação por vários meios. Em seguida é interessante avaliar esta primeira
impressão para começar a aprofundar a questão. Nesse momento, podemos ir em
busca do conhecimento acumulado sobre o assunto. Pesquisa com pessoas da
comunidade para saber a origem da situação, literatura, internet, órgãos
públicos, universidades e escolas especializadas podem ser consultados.
Um evento, com pessoa de notório saber (da
comunidade ou convidada), é interessante para tirar dúvidas. Em alguns casos,
um projeto pode encerrar nesta etapa.
Se o grupo sentir necessidade de buscar soluções
para os problemas verificados, surge a possibilidade de um segundo momento do
processo. Às vezes o problema é tão gritante que dispensa a etapa de motivação
e há grande ansiedade para resolver a questão. Mesmo nestes casos, nunca se
deve esquecer a etapa de reconhecimento para que equívocos não sejam cometidos.
É bom avaliar se o grupo quer prosseguir. Pessoas
podem querer sair, outras entrar. Uma ação frente à realidade verificada é mais
difícil e tem maior risco de frustração. O grupo deve preparar-se para este
fato. A ação resolutiva começa pela identificação de soluções. O projeto pode
evoluir para a conscientização da comunidade. Pode-se valer de uma passeata,
produzir um jornal, um programa de rádio, um seminário ou visitas domiciliares.
Neste momento, a equipe deve ensinar e saber ouvir
o que as pessoas têm a dizer. Nem sempre é falta de consciência, mas de meios
ou estratégias para envolver as pessoas na solução da questão. Pode haver
histórico de frustrações para o problema que levam ao imobilismo de alguns.
Também é possível que surja a compreensão de que
será preciso um trabalho envolvendo outros atores de fora da escola ou
comunidade, tais como prefeituras, ONGs, universidades, órgãos públicos e
privados. É preciso construir uma agenda com esses órgãos na busca da solução.
Pressão organizada tem mais força quando a solução
depende de iniciativa maior. Nestes casos é bom buscar apoio da mídia para
divulgar o trabalho. Isto fortalece a autoestima das pessoas e aumenta as
chances de resolver a questão.
Se o trabalho tornar-se perene, é preciso estar
atento para a renovação das pessoas envolvidas na ação. Numa escola, os alunos
passam e novos grupos devem ser iniciados para absorver a experiência dos mais
velhos, buscando seus próprios caminhos no processo. Pode-se criar um grupo de
defesa da causa, que assume a tarefa ao longo do tempo.
O trabalho tende a ser permanente e a desdobrar-se
por rumos difíceis de serem previstos. Mas é capaz de oportunizar processos de
crescimento pessoal e comunitário, decorrentes tanto dos sucessos quanto dos
fracassos. São desafios que mexem com os envolvidos e têm potencial de
transformar a vida de todos, o que engrandece e dá certeza de que se está
fazendo algo para o bem de todo o planeta.
Arno
Kayser agrônomo, ecologista e escritor. arnokayser@ig.com.br
Projeto
Pedagógico publicado na edição nº 384, jornal Mundo Jovem, março de 2008,
página 3.
Resumindo...
- 1 - Escolher um tema
próximo;
2 - Definir o foco da ação;
3 - Início da ação: conhecimento e registro;
4 - Aprofundamento: busca de maior conhecimento sobre o assunto;
5 - Identificação das soluções e conscientização da comunidade;
6 - Comunicação: divulgar o que está sendo feito;
7 - Renovar a equipe para o trabalho seguir em frente.
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