MIDIAS COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA


RESUMO DE TEXTOS ESTUDADOS - ARQUIVO PESSOAL

MIDIAS COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA

Kelly Chrystine Guedes Levy


No século XXI, aliada às linguagens encontra-se o desafio para aprender de maneira diferenciada, pois desde o final do século XX, no ano de 1997, a Unesco realiza um encontro em Paris que envolveu educadores expressivos de todo no mundo. Deste encontro, originou-se o Relatório da Proposta para Educação no século XXI, que destaca a necessidade de focalizar a aprendizagem em quatro grandes pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser (Delors [3]). Para que ocorram esses processos de aprendizagens significativas, recomenda-se que a prática pedagógica do professor contemple um paradigma novo que venha atender as exigências da sociedade com a produção do conhecimento, em especial, com a oferta dos recursos disponíveis presentes na era oral, escrita e digital.

Portanto, faz necessário uma reflexão acerca da inevitável presença da mídia como ferramenta didática. Ou seja, a prática do professor deve utilizar recursos que vão além do livro didático, e onde mais encontramos a realidade? Onde podemos identificar temas geradores de discussões, de tomada de consciência por parte dos alunos e professores? A mídia tem se mostrado como um objeto de estudo não só na Comunicação, como também para a Educação, pois reflete e reproduz questões do cotidiano.

É possível afirmar com veemência que as mídias não são nocivas ao indivíduo. Seu poder manipulador, revelado pela célebre escola de Frankfurt, mais conhecida pela sua Teoria Crítica, apregoava que as massas eram manipuladas pelos aparatos técnicos, que tinham como lógica interna a relação clássica marxista: produção – circulação – consumo.

A globalização afeta diretamente a sociedade, logo que permiti o contato rápido entre as pessoas, o excesso e o acúmulo de informações, em relação ao tipo de experiência correspondente, de modo particular para crianças e jovens; a velocidade do acesso a fatos, imagens e dados, em relação a um tipo diferenciado de experiência com o tempo, a memória e a própria concepção aprendida de história; novos modos de viver a intimidade e a vida privada, em relação com a experiência política e as práticas sociais, nos diferentes espaços públicos; outros modos de compreender o que seriam as diferenças, de que tanto se fala, em relação às práticas do mercado, ávidas por novidades sempre “outras”; a centralidade do corpo e da sexualidade na cultura, em relação direta com a superexposição midiática de corpos infantis e juvenis; finalmente, a crescente miscigenação de linguagens de diferentes meios (cinema, televisão, fotografia, artes plásticas, pintura, computador, Internet), em relação às narrativas de agora – ficcionais, publicitárias, didáticas ou jornalísticas.


Porem, somente uma parte da humanidade foi muito beneficiada. Neste processo, Lévy [1], alerta que a linguagem digital se trata de um novo processo de alfabetização e que a grande maioria da população ainda não tem acesso privilegiado a esta nova Era da Informação. Neste contexto, enfatiza-se o papel dos educadores para que criem projetos inovadores na escola, em todos os níveis de ensino, para que a população em geral tenha acesso a recursos midiáticos.

Os alunos precisam superar a passividade que caracterizou grande parte de sua formação para se tornarem participativos, ativos e investigadores na busca do conhecimento. Para tanto, professor e alunos precisam ser parceiros na produção do conhecimento. As perspectivas de um paradigma inovador na sociedade do conhecimento levam a repensar a prática pedagógica. Frente à nova realidade, o professor tem sido desafiado a ultrapassar seu papel autoritário e de dono da verdade, para se tornar um articulador e pesquisador crítico e reflexivo.

A escola precisa se adequar à tecnologia utilizando recursos midiáticos, Essa nova visão desafia o professor a mudar o foco do ensinar para aprender, qualificar o professor para sua utilização é de suma importância e sua exploração por parte do educador aproximará mais do aprendente contribuindo para o processo ensino-aprendizagem.

Vale salientar que os educandos no dia-a-dia convive com diversas formas de mídias, portanto, se faz necessário desmistificar esses recursos e torna-los recursos preciosos na sala de aula.

Muito mais do que saber lidar com as tecnologias é necessário saber lidar com o seu contexto. A alienação à exposição da televisão é discurso que não ressoa mais como uníssono, pois este meio técnico é um importante facilitador dos professores. Nesse sentido, Ferrés (1996) destaca que o que era causa de alienação será oportunidade para formação. O que era convite à hipnose passará a uma provocação para reflexão crítica, com a televisão transformando-se em um meio que enriquece.

Se assim considerar, os professores terão que tematizar a mídia. Logicamente, fala-se do seu conteúdo que poderá ser trabalhado no contexto escolar. Os temas geradores de Paulo Freire são a materialização dessa proposição. Porém, os temas geradores devem partir da realidade do aluno, relacionando com os conteúdos propostos pelo professor.

Segundo Píer Cesare Rivoltella “(...)da mediação entre a cultura dos meios, dos estudantes, da cultura escolar e da tradição cultural(...)”, função desempenhada pelo “mídia-educador”. Portanto, a utilização dos recursos midiáticos aproximará o professor da cultura do aluno, que poderá utilizar: o volume de informações disponíveis, o impacto de imagens e sons, a facilidade de interações, o aprendizado cooperativo em redes... para obter uma educação com qualidade.
Diante desse contexto, a opção de utilizar as mídias depende de reflexão crítica do professor para ter uma compreensão de como os meios de comunicação se estruturam e como agem sobre a aprendizagem das pessoas. Segundo Preti [9], as mídias são importantes tanto pelo que mostram e revelam, tanto pelo que omitem e ignoram. Trata-se de um processo de ressignificação contínua que precisa ser estudado por todos aqueles que se proponham a trabalhar com mídias educacionais. Esse processo de opção crítica é extremamente importante para que possamos efetivamente construir uma sociedade formada por cidadãos conscientes e responsáveis por suas ações.

Em função da mudança paradigmática da sociedade e da revolução tecnológica, toda atividade de docência deveria propor aos alunos a produção do conhecimento. Com esse desafio posto, os docentes deveriam incorporar na prática pedagógica a utilização de recursos de aprendizagem, em especial, a inclusão de uma ou mais mídias educacionais.

Rejeitar as mídias é rejeitar a técnica enquanto benefício do ser humano. As novas tecnologias, como a Internet, são aliadas na disseminação de informação, enquanto elementares na construção do conhecimento, mas é a televisão que ainda é uma das ferramentas essenciais para manter os indivíduos conscientes do que acontece ao seu redor.

O professor, que muitos profetizaram que desapareceria com o advento da Internet e dos telecursos, tem papel central nessa relação dialógica entre a oferta midiática e o contexto escolar.

A semântica é elemento central no processo de ensino-aprendizagem. Dentro dessa perspectiva, o professor ainda tem um papel central no contexto escolar. Ele não é significado nem significante, ele é um interpretante e resignificante dos conteúdos veiculados na mídia. Ele seria um grande mediador das relações interpessoais, bem como midiáticas. Não se trata de dar linearidade ao conhecimento, mas, sim, tematizar os conteúdos, propor temas geradores que venham a dar conta da produção do conhecimento para e pela mídia.

O professor auxiliaria seus alunos a educarem o olhar, a interpretação, a percepção das manifestações culturais do mundo, a partir dos valores sociais contextualizados com a cultura do aluno. Nesse particular, Porto (1998) defende que é importante que a escola defina, não de antemão, o que é significado ou não para o aluno, em função de sua cultura de origem, mas considere os diferentes segmentos culturais presentes na escola. Com isso, os significados para os alunos surgem e são construídos a partir das experiências deste, respeitando as iniciativas do professor.

A comunicação avançou e, contemporaneamente, compreende-se que o indivíduo pode constituir-se em todas essas etapas. Assim, a educação que se baseia apenas na relação clássica professor-aluno e está centrada apenas nos livros como meio, deixa lacunas na compreensão do mundo e dos sujeitos que serão preenchidas em outro lugar que não na escola, sendo que não necessariamente a partir dos valores sociais comungados como coletivos.

A partir do final do século XX, a escola deixa de ser um lugar de aprender a ser, mas começa, ou, deveria começar a ser, um lugar de se aprender a viver no mundo e não pelo mundo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

ALCÂNTARA, Paulo R. A Prática Docente E As Mídias Educacionais: Convergência e Divergências. Disponível: http://www.abed.org.br/congresso20
07/tc/572007115855AM.pdf Acesso : 5/09/2008

FISCHER , Rosa Maria Bueno Mídia, Máquinas de Imagens e Práticas Pedagógicas. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v12n35/a09v1235.pdf. Acesso: 5/09/2008


SANFELICE, Gustavo Roese & Araújo, Denise Castilhos de. Mídia e Ação Pedagógica: possibilidades de encontro. UNI revista - Vol. 1, n° 3 : (julho 2006)
Disponível: http://www.alaic.net/ponencias/UNIrev_Araujo_e_Sanfelice.pdf. Acesso: 5/09/2008

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