sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ensinar e Aprender: as duas faces da educação




Nildo Lage

Enveredar pelos caminhos da Educação estabelece muito mais do que formação acadêmica, domínio de conteúdo para repassar subsídios e agilidade para gerenciar conflitos... É imprescindível preceitos para transitar pelas veredas do “ensinar e aprender” sem lesar, provocar danos aos que buscam o saber como caminho das conquistas e necessitam de orientação, apoio, incentivo... Pois o conhecimento é um farol que atrai sentidos e ambições, mas se ofusca com informações, teores ou formas de aplicação que não auxiliam no desenvolvimento humano.

Mesmo com tantas alertas, o sistema de ensino insiste em ostentar problemas por deficiência de alternativas para sanar dificuldades históricas, entre elas, como injetar a dose dos ingredientes para montar a fórmula que promova o ensino-aprendizagem.

O fato é que a maioria dos “fazedores de Educação” parte para a batalha desprovida do kit compromisso, pois o ofício de ensinar determina evolução constante — aprendizagem contínua de quem trabalha com fo imprevisível — e isso impõe competências para atender aos anseios dos que buscam auxílio.

E, mesmo com a consciência de que ensinar não deve sobrepujar ao prazer de aprender, pois ensino sem aprendizagem é um caminho sem horizontes definidos, muito pouco se tem feito para transformar esse cenário.

O reflexo daqueles que admitem que necessitam aprender para ensinar é a diferença que distingue os grandes educadores, exatamente por aceitarem o desafio de ensinar com a consciência de que é preciso superar o comodismo e desafiar o decreto: “O que sei é o bastante para regar a vida de quem tem sede de novo”.

“Um indivíduo consegue hoje um diploma de curso superior sem nunca ter aprendido a se comunicar, a resolver conflitos, a saber o que fazer com a raiva e outros sentimentos negativos”, alerta Carl Rogers, psicólogo e pensador americano que estudou a personalidade humana, desenvolvendo o método psicoterapêutico por meio do trabalho voltado para o cliente, numa relação de confiança.

Esses profissionais partem para o mercado de trabalho, adentram pelos portões da escola e assumem uma sala de aula inconscientes de que ser educador é desenvolver habilidades e competências num processo recíproco de aprendizagem, em que vidas se transformam e pessoas se tornam instrumento da construção do saber e em que o crescimento pessoal, profissional e a constituição da identidade são ressaltados no desempenho de aptidões, atingindo o alvo almejado pela Educação, que é a compreensão de mundo para que educandos e educadores tenham orientação de se relacionarem socialmente, chegando, assim, ao produto final do processo educacional: o cidadão ativo, capaz de realizar-se pessoal e profissionalmente.

Alcançar essa meta é preciso para que o sistema de ensino insira, no seu quadro, educadores impelidos pela paixão de ensinar e com propósitos de educar aprendendo. Aprendendo com a inexperiência, com os erros... Com o respeito à razão, à emoção de quem busca orientação e a consciência de não impelir alunos a traçarem caminhos que não ambicionam trilhar.

O olhar deve se voltar para o profissionalismo, a ética e o compromisso... Profissionalismo de educar como instituição flexível aos problemas sociais, familiares e pessoais, para que as diferenças individuais sejam superadas com dinamismo; ética para respeitar contextos culturais, tradições locais... Princípios religiosos... E compromisso de gerenciar desarmonias, trabalhar as desigualdades através de conteúdos estabelecidos de forma que atendam às necessidades e ambições do aluno, respeitando seu ritmo de aprendizagem e desaprendizagem.

E, a partir desse ponto, direcionar os educandos a fortalecerem a estrutura para construir o universo de realização pessoal. Para isso, devem-se descartar olhares ideológicos cuja visão de mundo é antagônica a de quem busca, na sala de aula, uma Educação que una a alfabetização e a formação de pessoas para o mercado de trabalho.

Como ensinar uma geração plugada nas evoluções tecnológicas?

Aparelhos iPod e de celular modernos conectados à Internet, que traz a informação na velocidade de um clique. São tantos os avanços que computador e televisão são ferramentas ultrapassadas para muitos.

Com tantas ferramentas disponíveis à Educação, estabelece-se uma forma distinta de ensinar e aprender, pois o contato virtual do aluno com o mundo que paira na palma da mão, pelo poder da tecnologia, proporciona saberes diferenciados, uma vez que ele tem liberdade de escolha. São essas querelas que devem ser trabalhadas, descartando-se, principalmente, um ritual de temas fixos que desmotivam alunos e desgastam professores.

Um dos principais erros cometidos pelos profissionais da Educação ocorre na busca de alternativas para solucionar problemas que exigem ações seguras, entre elas, o abrir mão do uso das tecnologias, convertendo muitos em profissionais analfabetos digitais que se desviam da responsabilidade de cumprir a missão de educar uma geração que respira tecnologia, fala a língua tecnológica e traz na ponta dos dedos o ícone que a arrebata para o universo das causas possíveis, declara o professor e especialista em Educação Absmael Ferreira.

Esse é um dos principais entraves que impedem inovações e mudanças, pois o desenvolvimento do aprender exige mais do que ambiente favorável, conteúdos que despertem interesses e suporte nas dificuldades. É fundamental que educador e educando falem a mesma língua, mesmo encarando horizontes e ideais desiguais.

Ensinar é ter um olhar diferenciado, no qual todo um acervo de influências é posto em xeque, desde a origem familiar ao apoio, ao incentivo e à desenvoltura para fazer o envolvimento da família no processo educacional, que é o identificador educacional, a base do contexto social, emocional e intelectual do aluno.

É nesse momento de sondagem que a capacitação e o preparo profissional para enfrentar situações de conflito e dificuldades diferenciam o professor que apenas aplica conteúdos do educador movido pela paixão de ensinar. Este faz uso das idoneidades para facilitar a superação de problemas no desafiante processo de aprender, explorando o potencial do aluno com atenção especial. Sem deixar transparecer que o mesmo é um cliente cheque-mate com liberdade para determinar quando e como estudar, mas salientando que ele é um cidadão com responsabilidades de desenvolver o próprio crescimento e promovendo situações que explorem seus potenciais.

Esse desafio só atingirá objetivos se a consciência de quem ensina alcançar um grau de amadurecimento para despertar a ideia de que o que sabe é nada perante o muito que tem que aprender.

Se educadores e o sistema não almejarem como meta da Educação despertar no aluno a paixão de aprender como perspectiva de crescimento humano, de nada adiantará os investimentos em infraestrutura física, tecnologia, material didático... Pois a escola continuará a ser um espaço sem emoção, sem encantos para despertar a paixão que atrai os sequiosos de aprender e ensinar.

Por que em outras áreas — como Saúde — os profissionais se preocupam em fazer um trabalho que não afete a imagem profissional, pois os erros são punidos, na maioria das vezes, com severidade, e na Educação não ocorre o mesmo?

Apesar do processo de avaliação do profissional da Educação que expõe qualidades, dificuldades e problemas, muitos não se preocupam com críticas, pois uma barreira denominada lei, que proporciona a estabilidade, os ampara. E, com isso, comprometem o aprendizado, mesmo conscientes de que para ensinar bem é preciso estudar muito.

Há uma necessidade urgente de (re)avaliar as tendências educacionais para gerar alternativas que (re)despertem a paixão de ensinar, fazendo com que a sala de aula se torne um ambiente atraente para o aluno e prazeroso para o professor.

Contudo, diante de tantos percalços, o sistema tropeça nas dificuldades para agir e perde força, autonomia para exigir metas e resultados dos “fazedores de Educação” e para exigir que professores, coordenadores, gestores, governo e pais entendam que informação é uma bagagem que deve ser transformada em conhecimento para promover o desenvolvimento humano.

A mente da criança é um universo que absorve tudo à sua volta, um terreno fértil. Se os responsáveis pela sua formação não depositarem uma semente de qualidade, as ervas daninhas dos problemas sociais, familiares e educacionais a transformarão em devoradores de valores.

O retardamento do cultivo da semente da paixão por ensinar, em mentes cada vez mais produtivas pode intensificar os problemas da Educação, que resiste em ensaiar o primeiro passo para encontrar a saída, como o indicado pelo mestre Rubem Alves: “O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em ferramentas do amor: intérpretes de sonhos”. É preciso que o sistema de ensino assuma posturas enérgicas, como cobrança de resultados do corpo docente para que se entreveja a diferença entre professor e educador. Professor é o que vai à escola, cumpre horário, aplica os conteúdos, mas sem se dar ao luxo de olhar para o seu aluno; e o educador abnegado é o que se doa para seu aluno desenvolver competências, crescer como humano e se tornar cada vez mais independente como pessoa.

Não carecemos de professores que apenas ensinem o ABC, a formar sílabas, palavras... A ler para decifrar os códigos do mundo... Precisamos de educadores que despertem a paixão de aprender dos seus alunos com aulas dinâmicas, prazerosas... Educadores que estudem para melhorar a prática; investiguem para descobrir novas formas de ensinar nesse manancial de informações que se tornou a sala de aula, provocada pelo mundo globalizado.

Com tantas fontes jorrando à nossa volta, criar e recriar situações-problema é um caminho, uma saída para problemas que afetam educadores e educandos.

Infelizmente, muitos se preocupam com títulos para acompanhar a ascensão do plano de carreira, usufruir dos seus benefícios, com os quais, a cada pós-graduação, mestrado, doutorado, acreditam estar prontos para a guerra de ensinar, por se sentirem acima das tendências e teorias educacionais.

Mas, ao agirem diante daqueles que não buscam na escola apenas conteúdos, descartam conhecimentos e tomam posse da Bíblia Sagrada do professor — o livro didático —, obedecendo ao ritual milagroso das atividades prontas, que, na maioria das vezes, é oposta à realidade ou ao nível de aprendizagem da sua clientela, como declara o jornalista e professor universitário Affonso Romano de Sant’Anna:

O professor pensa ensinar o que sabe, o que recolheu nos livros e da vida, mas o aluno aprende do professor não necessariamente o que o outro quer ensinar, mas aquilo que quer aprender.

E o velho lema de que “Não aprendo, pois tenho estabilidade... O meu está garantido e, por isso, não ensino como devo” é um alerta de que a lei da estabilidade deve ser revista para que a Educação reassuma a sua função, e isso exige responsabilidades e ações que mudem a realidade da escola, inserindo novas formas e instrumentos de ensinar.

Para atingir esse propósito, professores, gestores e especialistas devem fazer a diferença por meio de atitudes que estimulem mudanças de hábito, e isso ocorrerá quando adquirirem a consciência de que necessitam aprender: aprender, principalmente, com o seu aluno, com os erros... E, por que não?, com atitudes para que possam se tornar reflexo e demonstrar que ser educador eficiente não é necessariamente se transformar numa enciclopédia que emana informações, mas um ser incompleto que pode chegar a um avanço extraordinário se concluir que deve aprender um pouco mais.

Se a cidadania e a ética não imperarem, a inclusão continuará sendo um mito, como consequência de uma escola que prega a profecia de que a criança aprende com a própria experiência, mas, se não cumprir o seu papel de integradora, promovendo o processo ensino-aprendizagem num ambiente agradável, esse crescimento dificilmente acontecerá.

A cadência de erros se repete num efeito dominó, pois o desnível dos ciclos de ensino é alarmante e os reflexos da má qualidade são consequência do despreparo, que vem desde o primeiro ciclo, prossegue no segundo e finda nos bancos das universidades.

Mas é justo depositar a responsabilidade do aprender e ensinar somente nos ombros do professor?

O Ideb foi baixo... Meu filho não estuda mais naquela escola, e a culpa é do professor que doou pouco...

Mas em que raio anda o comprometimento da família para doar a sua parcela na educação do próprio filho? Em que labirinto da burocracia política o governo permitiu enveredar a responsabilidade para profissionalizar? Quais os empecilhos que impedem o sistema de ensino de inovar? Os gestores que não cumprem as metas da escola?

Educação é a junção de valores, princípios... Contudo, a divisão de deveres entre família, escola, governo, sistema é o caminho... Se esses elos não se acoplarem, dificilmente seremos vitoriosos, mesmo com professores “embriagados de amor” pela arte de ensinar.

Se não remodelarmos esse sistema que não capacita, não cobrarmos resultados, a paixão de ensinar fenecerá nas garras do descaso que poda condições de trabalho e só exige números como sinônimo de avanço, fazendo com que o crédito da Educação na sociedade se reduza ainda mais.

Administradores têm que se cientificar de que Educação é o caminho da vitória profissional e pessoal, a porta da independência humana, e, se o governo não olhar para a escola como instrumento de transformação de vidas e continuar negando condições para que seus mecanismos funcionem, a base família, que se preocupa apenas com o sustento, submergirá no abismo de uma sociedade cada vez mais desintegrada.

Por outro lado, o discurso “pedagogicamente correto” necessita mudar de curso para que chegue, pelo menos, ao vulneravelmente justo, pois as ações “corretas” não condizem com os desabafos de alunos insatisfeitos com os maus-tratos de professores, gestores, condições da escola e que reagem com depredação e sumiço do material, o que demonstra falta de postura e educação, auxiliada pelo descaso dos pais.

Carência de limites por falta da família ou insatisfação pela qualidade do ensino?

Esses resultados são reflexo de uma sociedade cada vez mais violenta, ao ponto de chegar à selvageria. Ser professor é uma aventura. Decreta agilidades e capacidades para domar feras que raciocinam, mas não refletem que o ambiente escolar é um espaço para a vida, e não uma arma para assassinar o futuro daqueles que necessitam de formação para se tornarem vencedores.

No fogo cruzado, é fundamental que educadores e especialistas sigam as dicas do mestre Carl Rogers: “Os educadores precisam compreender que ajudar as pessoas a se tornarem pessoas é muito mais importante do que ajudá-las a tornarem-se matemáticas, poliglotas ou coisa que o valha”.

Com esse ato, empunha a arma da ignorância e assassina o futuro de muitos que passam sob sua regência, pois a ambição como profissional não é necessariamente ensinar, mas repassar informações para cumprir um contrato, indiferente aos que necessitam da eficiência de sua atuação para superar dificuldades. Por desconhecer que a capacidade de ensinar está agregada ao desejo de aprender, o professor que não vive essa paixão jamais atingirá a meta mais almejada, que é o ensino-aprendizagem com os seus alunos.

Há uma necessidade urgente de atrair para a escola o entusiasmo pelo ensinar, para que desperte o prazer do aprender, pois, com tantos profissionais sem paixão pelo ofício, o ambiente escolar torna-se cada vez mais artificial: sem entendimento aluno-aluno, professor-aluno. Com a carência dessas interações, aprender e ensinar tornar-se-ão um processo difícil de ser aplicado.

Dedicação, paciência, tolerância nas dificuldades do outro não existem mais, e, como o aluno tornou-se um indivíduo irreverente, que não permite ser domado, o professor que não assume o compromisso de ensinar com a tranquilidade, com a perspicácia de que dificuldades são desafios que devem ser superadas entre educadores e educandos, arduamente obterá resultados satisfatórios.

Diante de tantos fracassos, o analfabetismo literário impera cada vez mais na escola, e perguntamos: até onde é possível?

Os brasileiros carregam a triste sina de que leem mal, bem abaixo das exigências sociais e econômicas do mundo informatizado. E o pior: leem assim onde deveriam estar lendo mais: na escola.

Sabemos que professor não tem obrigação de ser um dicionário andante para tirar todas as dúvidas dos seus alunos, mas tem o dever de reunir informações indispensáveis à aplicação de uma aula que dissemine o aprender, pois o conhecimento consiste na arte de ter sempre algo a buscar. Micheletti e Brandão acreditam que:  o ato de ler é um processo abrangente e complexo; é um processo de compreensão, de entender o mundo a partir de uma característica particular ao homem: sua capacidade de interação com o outro através das palavras, que, por sua vez, estão sempre submetidas a um contexto.

Excepcionalmente, o professor da era digital deixa-se levar pelo comodismo e abre mão desse poderoso instrumento de aprendizagem, ignorando as inúmeras fontes que jorram à sua volta, como revistas, jornais, Internet, filmes, livros... São tantas opções que tropeçam nos corredores, nas salas dos professores... Para muitos, são, simplesmente, livros... Velhos conhecidos, mas sem afinidade, intimidade... Afinal, literatura é um saco para se ler e não é cobrada no mercado de trabalho — principalmente no “seu trabalho”. Mas esquecem que o aprender amplia as condições para ensinar.

Então... Por que é professor?

A Educação está cada vez mais desprovida de professor-leitor-investigador, desvanecendo a paixão de ensinar, que colide com o descaso do aprender, pois a cultura de “não aprender para ensinar” está disseminada em faculdades e universidades abarrotadas de alunos, que passam pelas suas dependências e saem tão vazios quanto entraram.

O único consolo é um certificado de conclusão debaixo do braço, sem saber em que direção seguir, pois foi-lhe negada a oportunidade de experimentar o doce prazer de aprender para ser.

Na regência, se sente um astro. Nas alturas, acredita conter poderes para iluminar o planeta sala de aula: ver tudo, saber de tudo, mas conhecer muito pouco do próprio ofício, pois não gosta ou tem preguiça de ler para aprender e melhorar a prática.

Outro dia, visitei um professor e fiquei encantado: por onde se olhava, havia livros: na sala, no quarto, na copa e até no banheiro, numa cesta de vime ao lado do vaso. Pensei:

“Mesmo na hora de ‘telefonar para o presidente’, não se aparta dos livros!”

Curioso, perguntei:

— Leu todos esses livros e revistas?

A resposta foi surpreendente:

— Não! Acho o máximo olhar para todos os lados da casa e ver livros. Isso me proporciona uma agradável sensação de que estou absorvendo os seus conteúdos!

Muitos professores se agarram à crença de que livro na estante, espargidos pela casa, atrai sabedoria. Livro e professor são como coração e amor. Tem que ter sintonia, contato, intimidade...

Somente assim o analfabetismo literário, que forma profissionais sem conteúdo, deixará de ser um instrumento de empobrecimento, pois professor que não lê para aprender não tem fome de novo, ambições como profissional, como ser humano nem compromisso com o desenvolvimento dos seus alunos.

Livro na estante é, simplesmente, um objeto exposto; uma Bíblia aberta no Salmo 91, como se vê na maioria das casas, revestida de poeira. Se não for lida, os nossos clamores jamais chegarão aos ouvidos do Criador.

Muitos podem até acreditar que habitam no esconderijo do Altíssimo, mas vai ser difícil descansar à sombra do Onipotente, pois lugar de livro é na sala de aula, nas mãos de alunos e professores.

É uma lástima, mas as nossas escolas estão repletas de professores “Salmo 91” e de alunos que se tornaram discípulos desses mestres, ao ponto de ignorar essa fonte de sabedoria cognominada livro.

A febre da era digital contaminou todo o sistema pelo vírus “ctrl”: ctrl t, ctrl c e ctrl v... Capa, contracapa, uma breve introdução para dissimular... Uma unidade, um semestre ficam para trás... Ninguém leu, ninguém investigou... Ninguém aprendeu... Pois ninguém ensinou... Todos copiaram...

E você, professor? Deseja ser professor-leitor ou professor “Salmo 91”?

Educar é como a arte de cultivar a terra: estabelece habilidades, competências, atenções especiais, sensibilidade para aprender com o tempo, tirar lições da semente que busca germinar num meio infestado e aprender como preparar o terreno, o momento de semear, de regar... A hora de colher... Se não ficar atento às mudanças, ao tempo da semente, pode perder tudo.

Assim é o ofício de ensinar... Se o educador não tiver ambições de fazer a diferença nesse universo do conhecimento, poderá ficar fora do mercado, quando o responsável pela semente — o pai do aluno — não aceitar que determinado “agricultor” a lance num terreno infértil; e, como seu cliente é o aluno, sem ele não terá emprego.

Muitos ainda não aprenderam ou se adaptaram às variações e mudanças do planeta sala de aula, de que aprender é a melhor lição para ensinar melhor e garantir o Toddy ao final do mês..

São tantos questionamentos diante dos fracassos e às ruínas dos valores da Educação que muitas vezes chegamos à ilação de que a escola está deixando de ser um local de aprendizagem para se tornar uma arena de (des)aprendizagem, pois o sistema está permitindo que esse ambiente se torne palco de violência, guerras e mortes, como o caso do professor de Belo Horizonte, esfaqueado e morto pelo próprio aluno.

Já passou do momento de aprovar leis para chamar a responsabilidade para a família, no envolvimento da educação do filho; do professor que só pensa no Toddy no final do mês, quando acontecerá o próximo aumento salarial, a nova progressão do plano de carreira e dão as costas para o seu cliente; e do governo, que mostra números e não apresenta alternativas para colherem resultados positivos.

É preciso transformar o sistema, com professores simpáticos ao ofício de ensinar e descartar aulas monótonas, fazendo o aluno sentir prazer em aprender, pois a regra mais eficaz de ensinar é falar a língua de quem busca o aprender, e aprender essas regras é ensinar melhor, e ensinar melhor é dividir conhecimentos, compartilhar experiências e... Aprender.

Apesar de termos plena consciência de que nenhum educador, por mais que tenha habilidades para gerenciar conflitos, competências para superar transtornos, eficiência na aplicação dos conteúdos para promover o crescimento humano do seu aluno, dificilmente alcançará o alvo da formação integral, devido à degradação que vem promovendo a ruína de valores familiares, princípios religiosos, sociais e culturais através dos séculos.

No entanto, pode fazer a diferença tornando-se, na vida desse sonhador aluno, um incentivador que necessita de respeito, orientação, direito para errar, liberdade para aprender com os erros e amadurecer com os acertos. Afinal, o verdadeiro valor da Educação só será ressaltado a partir do instante em que a comunidade escolar decidir assumir as suas responsabilidades, quando cada segmento cumprir com o seu papel de integrador: família, escola... Comunidade; para, assim, a escola ensinar com denodo.

Enquanto isso, muitos prosseguirão pelos caminhos da Educação como alternativa de sobrevivência, persistindo em ensinar... E aposentarão “professores”... Sem deixar grandes saudades... Ao passo que outros, seduzidos pela paixão de ensinar, pela vontade de compartilhar na edificação de um mundo melhor... Se destacarão transformando vidas, por auxiliarem na construção do conhecimento... Esses são exímios “educadores” e se eternizarão, pois se tornarão referência aos que acreditam que quanto mais entendo de ensinar, mais me certifico do quanto tenho que aprender.



Um comentário:

Unknown disse...
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