sexta-feira, 7 de abril de 2017

Relato: Conselho de Classe Participativo


Pedagogas: Cristiane Rodrigues de Jesus, Daiane Kaciéle Segatto e Graciana Pangrácio
E-mail para contato:
cristianerdj@seed.pr.gov.br
Instituições
: C E 1o Centenário - EFM e E E José Ribas Vidal - EF
Município / Estado:
Campo Largo-PR
Segmentos em que foi aplicado:
Professores, alunos e funcionários.
Foi utilizado algum recurso do Portal?
: Não









Relato

O Relato abaixo consiste em uma prática de Conselho de Classe aplicado nos anos letivos de 2006 a 2008, pelas pedagogas da Escola Estadual José Ribas Vidal e do Colégio Estadual 1º Centenário - município de Campo Largo - NRE Área Metropolitana Sul. A Escola José Ribas Vidal tinha um quadro de 191 alunos, 15 professores e 6 funcionários. Já o Colégio Estadual 1o Centenário apresentava 607 alunos, 43 professores e 13 funcionários.

A partir das reflexões proporcionadas pela Jornada Pedagógica de 2005 a respeito do Conselho de Classe Participativo, realizamos a experiência descrita abaixo a partir de 2006. Queremos enfatizar que até chegar neste formato, o Conselho de Classe foi aperfeiçoado a cada nova reunião, uma vez que ao final sempre houve a reflexão dos pontos falhos, a fim de corrigi-los para o próximo.

Essa experiência conta com três fases: O Pré-Conselho, o Conselho de Classe e o Pós-Conselho.

Pré-Conselho de Classe

O Pré-Conselho de Classe era realizado sempre uma ou duas semanas antes da data da Reunião do Conselho. Por sua vez, era dividido em três fases:

1ª Fase - Auxiliares Operacionais: Inicialmente são questionadas as dificuldades que os auxiliares operacionais da escola (das funções de merendeira, serviços gerais, inspetor, bibliotecário, técnicos dos laboratórios de informática e auxiliares de secretaria) identificavam em seu trabalho, com relação aos alunos. Também eram discutidas as sugestões referentes ao que fazer para melhorar a situação descrita. Os problemas e as soluções identificadas eram anotados.

2ª Fase -  Alunos: O Pré-Conselho de Classe com os alunos era realizado com toda a turma ou somente com os alunos representantes. As questões norteadoras dessa fase eram:
1.      Quais as disciplinas em que a turma está sentindo maiores dificuldades?
2.      Quais os motivos prováveis?
3.      O que a turma poderia fazer para melhorar essas questões?
4.      Existem problemas de relacionamento com alguns professores? Quais professores?
5.      Quais problemas?
6.      O que a turma se compromete em fazer para melhorar essas questões?
7.      Qual disciplina a turma não tem dificuldades? Qual é a diferença entre os professores desta disciplina e das citadas anteriormente?
Antes de iniciar os questionamentos, conversamos com os alunos e demonstramos a importância de serem objetivos em suas colocações, bem como da necessidade de citarem fatos que os levavam a pensar de determinada forma sobre o professor. Sempre deixamos claro que o objetivo da conversa era identificar os problemas para a busca de soluções. Nunca permitimos que eles utilizassem o momento para declarações subjetivas e infundadas contra os professores. É claro que nos primeiros pré-conselhos com alunos essa situação ocorreu, fato que foi contornado por meio de uma postura firme relacionada com a conversa inicial. Com o tempo e prática constante, os alunos perceberam os benefícios desta postura ética e fundamentada.

Bastou deixar claro o objetivo e as regras dessa conversa para que as turmas entendessem o sentido do trabalho. O que mais chamou nossa atenção foi o fato de que essa conversa com as turmas resultou em outros benefícios. Porque enquanto eles explicavam os fatos, evidenciavam não só no que o professor precisa melhorar, mas também suas falhas como alunos. Neste momento, aproveitamos para chamar a atenção da turma para seus deveres como estudantes, levando-os a analisar suas atitudes. Também comentamos os problemas apresentados pelos funcionários, tais como salas muito sujas, pratinhos espalhados no pátio, banheiros malcuidados, dentre outros e solicitamos para que eles sugerissem ações para melhorar o exposto. Embora muitos possam pensar que estes assuntos são irrelevantes para o processo de ensino - aprendizagem eles podem de fato influenciar negativamente no processo se não forem solucionados, gerando um clima de impunidade, que geralmente culmina em indisciplina. A partir de tais reflexões, as turmas, com o nosso auxílio, elaboraram um termo de compromisso. Todos os compromissos foram anotados e os presentes assinaram, atestando simbolicamente o compromisso firmado.

3ª Fase - Professores: Nesta fase, a equipe pedagógica, durante a hora-atividade, discutia com cada professor sobre os alunos que apresentaram notas baixas na disciplina, apontando os prováveis motivos que os levaram àquela nota, além do conteúdo que houve maior incidência de notas baixas e as consequentes ações para recuperar o conteúdo. A partir dessa conversa, aproveitamos o momento para vistar o livro de chamada e, junto com o professor, de posse de seu plano de trabalho docente e em conjunto, identificamos os conteúdos que deveriam ser replanejados. Além disso, conversamos sobre o processo de avaliação, identificando aspectos positivos ou que precisavam melhorar, analisando os instrumentos utilizados na avaliação, critérios, bem como o processo de recuperação de conteúdo.

Após, questionamos o professor a respeito dos problemas de indisciplina que estavam ocorrendo. Em seguida, convidamos o professor a comentar outros problemas que ocorriam no andamento geral da escola e que estavam atrapalhado o trabalho pedagógico. Todos os dados eram anotados por nós, pedagogas, em uma ficha para posteriormente serem tabulados.

Nesta etapa do Pré-Conselho, além do trabalho com alunos, professores e funcionários, também eram tabulados os dados do rendimento das turmas por meio de gráficos. A partir do 2o Bimestre/Trimestre comparávamos o rendimento atual com o anterior.

Após a tabulação dos dados, a Equipe Pedagógica reunia-se com a direção da escola para análise prévia dos dados dos gráficos e dos relatos da comunidade escolar, a fim de estruturar a pauta do Conselho de Classe. Nessa reunião eram estabelecidas a ordem que os assuntos seriam tratados, além da forma como seriam abordados.

Conselho de Classe

No Conselho de Classe, os professores reuniam-se juntamente com a direção e a equipe pedagógica. A pauta do Conselho de Classe era apresentada. Antes de iniciarmos cada Conselho de Classe deixávamos claro que o enfoque principal não era a discussão de questões pessoais dos alunos, mas os problemas apresentados no pré-conselho de classe, bem como a análise do processo de avaliação aplicado no período.

Os problemas apresentados no pré-conselho com alunos e agentes educacionais eram então apresentados aos professores. Nos primeiros conselhos realizados, deixamos claro que o objetivo do pré-conselho com alunos e funcionários era a busca de melhoria do processo de ensino-aprendizagem, a fim de obter uma visão mais ampla do todo, além de realizar um trabalho preventivo contra eventuais problemas que interfiram neste processo. Destacamos, também, o sentido do trabalho coletivo e da gestão democrática na escola. Dessa forma, ficou claro para os professores que o objetivo do trabalho não era perseguir profissionais - o que muitos pensavam - mas analisar os problemas e buscar soluções. Com o tempo, a confiança se estabeleceu, não havendo necessidade de tal explanação. Os professores, inclusive, gostavam muito deste formato, enfatizando sua objetividade e funcionalidade na resolução dos problemas.

Assim, a reunião geralmente era iniciada com uma apanhado geral das respostas que os alunos apresentaram na questão 7 (a respeito das disciplinas que eles vão bem), sem citar o nome das disciplinas. Evitávamos qualquer comentário direcionado a determinado professor no coletivo. Nossa prática era avisar, neste momento, que comentários específicos seriam realizados em particular. A partir de então, os problemas eram apresentados e os professores definiam encaminhamentos em conjunto.

Após as definições, apresentávamos os problemas e as sugestões levantadas pelos professores no Pré-Conselho de Classe. Apresentamos os gráficos de rendimento, os quais ao final da reunião eram fixados na sala de professores para análise mais profunda do professor, e enfatizamos que o objetivo deste era para que o professor realizasse uma autoavaliação das práticas do 1o Bim/Trim em comparação as do 2o Bim/Trim. O professor era convidado a analisar os motivos que fizeram a turma, em geral, a decair ou a progredir, a fim de identificar e repetir as ações que surtiram bons resultados. Por fim, apresentamos o nome dos alunos que obtiveram mais do que três médias abaixo de 6,0 no período, solicitando para que todos os professores anotassem seu nomes. Todas as decisões eram registradas em livro ata e assinadas pelos presentes, colocando os nomes dos alunos que necessitavam de maior atenção no próximo período, enfatizando as ações que seriam tomadas para recuperá-los.

Pós-Conselho de Classe
No Pós-Conselho de Classe informamos aos professores que não puderam comparecer, e aos alunos e agentes educacionais, sobre as decisões tomadas no Conselho de Classe. Também eram realizadas as ações determinadas no Conselho de Classe, e relembradas sempre que fosse necessário. Assim, se no Conselho, por exemplo, ficou definido que os pais seriam chamados para uma reunião de entrega de boletins ou de orientação, a referida reunião acontecia com o auxílio de toda a equipe. Ou seja, no Pós-Conselho de Classe era o momento de informar e colocar em prática o que foi proposto.

O que o professor precisa fazer depois do conselho de classe?
Discussões da reunião precisam resultar em mudanças práticas na sala de aula com o objetivo de aprimorar a aprendizagem. Portanto, é hora de replanejar suas aulas

Laís Semis (novaescola@novaescola.org.br)

Todo semestre é aquela correria para fechar notas, faltas e registros antes do conselho de classe. No dia da reunião, todo mundo se concentra, apresenta suas conclusões, reflete sobre o que já foi desenvolvido até ali e... Pode parecer que o sufoco passou, mas o trabalho está apenas começando. Empenhe-se para agir sobre cada aspecto que foi diagnosticado neste importante processo avaliativo e levar o que foi discutido para a prática.
"É necessário retomar os pontos trazidos como problemáticos e trabalhá-los diariamente. Não se pode deixar ser engolido pelo fluxo cotidiano e ignorar as dificuldades que permeiam a aprendizagem", diz Ana Cristina Gazotto, coordenadora pedagógica e formadora do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). Algumas ações e perspectivas podem guiar o professor para seguir o ano letivo de maneira assertiva. Confira, a seguir, algumas sugestões.
O conselho de classe é uma experiência formativa. Um docente pode dominar completamente o conteúdo de sua disciplina e ter uma formação exemplar, no entanto, a sala é heterogênea e cada aluno aprende de uma forma diferente. "Ele precisa ter sensibilidade e estudar didática. Com a tecnologia, as informações estão por toda parte e a turma está conectada na internet o tempo todo", aponta Ângela Dalben, professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora do livro Conselhos de Classe e Avaliação: Perspectivas na Gestão Pedagógica da Escola (esgotado). "A metodologia deve construir integrações em sala de aula, assim como se tem no celular, por exemplo. Temos de criar redes reais com linhas de raciocínio e ter consciência de que o resultado do estudante também tem a ver com o do educador".
 O aluno não consegue identificar sozinho o que precisa mudar. E indicar que a criança não é boazinha, não faz lição ou não participa das atividades propostas não é suficiente. Uma conversa franca entre professor e aluno deve enfocar o que está acontecendo. Por que ele não consegue se envolver com a disciplina? As propostas estão difíceis demais? Ele consegue compreender o que as atividades solicitam? O que mais desperta a curiosidade dele? Para Ana Cristina, as ações precisam ser construídas independente do comportamento da sala, que não pode ser uma desculpa para melhorar a prática.
 Pensar como equipe faz toda a diferença. Ângela indica que em escolas muito rígidas, existe uma tendência do professor "esconder" o que faz em sala de aula. "Então, ele vai tendo resultados ruins e nem quer discuti-los ou mesmo dividi-los. Alguém que não quer construir junto e nem pensar em como melhorar o resultado, acaba parado no tempo", aponta. Ana Cristina complementa que, com o tempo apertado, é difícil o docente conseguir ampliar repertório, estudar, buscar alternativas. "Por isso é tão importante contar com a ajuda dos colegas. Sem eles, não tem como avançar", comenta.
 Compartilhar com o coordenador pedagógico o planejamento e as dúvidas sobre o que é preciso ser aprimorado e como fazê-lo é um passo para a mudança. "Quando o docente entende que o coordenador é parceiro e não está contra ele, o ganho é enorme. É preciso ser receptivo a novas e boas ideias", explica Ana Cristina.
 "O segredo está em replanejar, reavaliar e aplicar de acordo com a necessidade do aluno. Na hora que o professor coloca em prática sua inovação pedagógica, a aprendizagem é maior", diz Valter Pereira de Menezes, professor de Ciências na Escola Municipal Luiz Gonzaga, em Parintins (AM), e educador nota 10 de 2015. Escute o depoimento completo do professor no player abaixo.
Então, ao planejar as situações de ensino, converse sobre os pontos discutidos no conselho com outros docentes e com o coordenador pedagógico. Vale refletir se o seu planejamento:
 - Inclui a sondagem do que eles já sabem efetivamente sobre o conteúdo;
 - Considera as referências e o repertório que as crianças ou os adolescentes têm sobre o tema;
 - Contempla o que os alunos precisam aprender e as didáticas que se encaixam melhor para cada turma;
 - Abrange atividades específicas para os alunos com mais dificuldade;
- Retoma e estabelece relações com outros assuntos já trabalhados;
 - Promove desafios graduais de acordo com a trajetória e o desenvolvimento do estudante;
 - Diversifica trabalhos e formas de apresentar o conteúdo;
 - Seleciona materiais para as aulas que estão de acordo com o propósito das situações de ensino propostas;
 - Leva em conta tarefas de casa para reforçar o que foi apresentado em sala ou para introduzir temáticas que serão apresentadas nas aulas seguintes;
 - Envolve devolutivas regulares sobre as produções dos educandos;
 - Promove interação e parceria entre os alunos com o objetivo de trazer situações de apoio para a realização das atividades.
 Registro e reflexão sempre
 Com as mudanças implementadas, não espere a próxima reunião do conselho para voltar a analisar os resultados. Um parceiro interessante para continuar avaliando se o caminho escolhido está funcionando é o portfólio. Esse instrumento permite analisar com maior cuidado as situações de ensino e as propostas do último bimestre e, assim, refletir sobre a natureza das dificuldades apresentadas pela sala e quais ações tiveram bons resultados. "Olhar para essa produção é olhar para o caminhar da criança com a possibilidade de investigar seu percurso", coloca Ana Cristina.
 A classe também é aliada no aprimoramento das práticas. Avalie com ela as metodologias utilizadas para apresentar os conteúdos, as atividades propostas, o ritmo da aula, as mudanças que as crianças gostariam de ver. "Precisamos trazê-los para participar, convidá-los a dialogar, dar ideias e isso não precisa ser um projeto. É algo a ser desenvolvido no dia a dia", observa Ângela.
Por fim, continue se abrindo e compartilhando as dificuldades. Apresentar regularmente os problemas que aparecem em sala durante as reuniões de horário de trabalho pedagógico-coletivo pode ajudar a aprimorar a didática e produzir resultados mais efetivos.




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