Cidadania Indígena
Em busca
do conceito de cidadania
Ser
cidadão é também sair da toca e participar da vida em comunidade. Você pode até
achar que esse papo não tem nada a ver com seu dia-a-dia... Mas tem sim! Cada
vez que você agir pensando não só em si mesmo, mas também no bem-estar de
todos, estará exercendo a cidadania. Porque a cidadania não é só direitos e
deveres, mas também a consciência de que devemos nos esforçar para construir um
mundo melhor, mesmo com pequenas ações.
Cada
pequena ação que realizamos transforma nossas vidas e as vidas de outras pessoas.
Para ser um bom cidadão basta perceber que não estamos sozinhos: vivemos em
comunidade, seja em casa, na Aldeia, na rua, na escola, na nossa cidade, no
nosso país e no planeta Terra.
Você sabe
o significado desta palavra cidadania?
O que é
cidadania para você?
Você é
capaz de identificar na sua vida, e na vida da comunidade em que vive a
cidadania?
Vamos
tentar responder estas questões?
Antes de
tecermos algum conceito sobre o que venha a ser cidadania, o primeiro passo a
ser estabelecido é o de acreditar que a cidadania se constrói, enquanto
processo, na história de cada um de vocês e da sociedade a que vocês estão
inseridos. Ela se traduz pela capacidade de nos fazermos sujeitos responsáveis
por nossa história e pela construção da história de nossa sociedade. Com isto,
queremos dizer que a sociedade não é obra de um indivíduo (uma só pessoa)
apenas, mas de uma coletividade (vários indivíduos juntos).
Como
ideal, a cidadania deve conduzir o homem a emancipação. No entanto vale lembrar
que neste processo a cidadania pode sofrer distorções graves, retardando ou
impedindo o seu exercício. É, justamente, o que ocorre com a chamada “CIDADANIA
ASSISTIDA”, que se expressa através de programas assistencialistas que mascaram
a marginalidade social, ou seja, ao invés de incentivar que as pessoas
trabalhem juntas e assim todos assumam o seu papel de cidadãos conscientes,
dispostos a fazer a sua história de forma coletiva e organizada, assume-se
outra prática, a do assistencialismo, reduzindo dessa forma, a capacidade da
população de buscar caminhos alternativos de superação dos problemas
enfrentados. Isso acaba por gerar “pobreza política”. O assistencialismo é uma
forma de dominação capaz de transformar a população em MASSA DE MANOBRA, de
PERIFERIA, de MARGINALIZAÇÃO.
Por isso,
vamos ficar ligados! Pois, estarmos alerta para esse tipo de dominação é
atitude cidadã fundamental. Ora, Parentes! Toda pessoa deve conhecer seus
direitos de cidadão para que possa saber quando eles não estão sendo cumpridos,
e assim tomar as atitudes necessárias para o restabelecimento do mesmo. Desse
modo você exerce sua cidadania, que nada mais é do que a busca de uma vida
digna. Seguindo seus direitos e deveres você está exercendo sua cidadania.
Mas,
quais são os direitos característicos da cidadania? Lá vão eles:
• Os
DIREITOS CIVIS garantem a vida em sociedade, tais como a liberdade de opinião,
liberdade de imprensa, liberdade de pensamento e fé, e o direito a igualdade de
tratamento frente à justiça. Vejamos uma definição dada por um grande autor
brasileiro:
“são os direitos fundamentais à vida, à
liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram em
garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de
organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência,
de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis,
de não ser condenado sem processo legal regular. São direitos cuja garantia se
baseia na existência de uma justiça independente, eficiente, barata e acessível
a todos. São eles que garantem as relações civilizadas entre as pessoas e a
própria existência da sociedade civil surgida com o desenvolvimento do
capitalismo. Sua pedra de toque é a liberdade individual." (Carvalho, J.
M. de, A cidadania no Brasil – O longo caminho- pp.9-10, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001)
• Os
DIREITOS POLÍTICOS garantem participação da sociedade no governo tais como o
direito de votar e ser votado, direito ao voto secreto, entre outros;
• Os
DIREITOS SOCIAIS garantem a participação na riqueza coletiva é o direito ao
mínimo bem-estar socioeconômico, traduzido pelo direito à saúde, educação, etc.
Vejamos o que diz o autor citado acima a respeito:
"Eles
incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à
aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma
eficiente máquina administrativa do poder executivo. Os direitos sociais
permitem às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdades
produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem estar para todos. A
idéia central em que se baseiam é a justiça social"
A
cidadania se constrói enquanto processo no cotidiano, a cada dia. Na luta pela
melhoria das condições de vida em sua aldeia. Na busca pela melhoria do
transporte, na melhoria das condições sanitárias, da iluminação, luta pela
escola de qualidade, respeitando individualidades de casa aldeia e por um posto
médico digno, com funcionários competentes e comprometidos com a saúde
indígena.
Repito:
precisamos todos estar atentos para o fato de que o exercício da cidadania, nos
pequenos problemas do dia a dia, nos deixará mais habilitados e fortalecidos
para as grandes batalhas futuras.
O que é
ser índio?
Ser índio
é ser igual, e ser diferente. Ser índio é ter coragem de lutar e com a luta
unir seu povo.
Ser índio
é ter orgulho de sua identidade e com ela fortalecer sua cultura. Ser índio é
tornar mais forte o seu povo e reviver a sua inteligência.
Ser índio
é não ter aquilo que não gosta e ter aquilo que lhe pertence. Ser índio é
cuidar da mãe terra e preservar a natureza.
Ser índio
é ser amigo nos dias de sol e de chuva. Ser índio é ter consigo a liberdade e
fazer valer a sua capacidade.
Ser índio
é viver em comunidade. Ser índio é gostar da verdade. Ser índio é lutar pela
igualdade. Ser índio é sorrir e chorar com os que amam o próximo com ternura e
sinceridade.
Esses
pequenos versos eu dedico para todas as comunidades indígenas e digo mais
parentes, nunca desistam de seus ideais, não deixem que pequenos obstáculos
venham impedir uma luta que ultrapassa 500 anos de resistência.
Texto
escrito por Puhuy Pataxó, índio Pataxó Hãhãhãe, e retirado do site
www.indiosonline.org.br
Para
nossa atual Constituição Brasileira, o indígena, como qualquer outro
brasileiro, é um cidadão que tem seus direitos defendidos pelas leis.
A FUNAI
(Fundação Nacional do Índio) deve zelar pelo bem-estar dos povos indígenas e
para que as leis que os protegem sejam cumpridas, tanto no setor político, territorial
ou mesmo social.
O
reconhecimento da cidadania indígena na Constituição proporciona aos povos
indígenas brasileiros igualdade política em relação ao restante da população
brasileira. Desse modo podemos ter se assim desejarmos, carteira de identidade
e título de eleitor, como também podemos usufruir do atendimento de saúde e
educação públicos.
Além
desses direitos, o Estado deve assegurar a nós indígenas a posse de terras
tradicionais, defendidas legalmente pela Constituição Federal em seu artigo 231.
É papel
do Governo reconhecer e demarcar os limites de TODAS as áreas indígenas e
defendê-las de qualquer pessoa ou empresa que não respeite sua delimitação.
Infelizmente,
apesar de toda essa legislação, somente 10% dos 600 mil indígenas (dados dos ISA)
vivem em terras legalmente asseguradas pelo Estado e não são raros os casos em
que essas reservas, que somam um total de 650, são invadidas por garimpeiros,
mineradoras, madeireiras, ou mesmo grandes latifundiários que visam a posse
dessas terras por sua riqueza, sem levar em consideração a população indígena
que ali vive.
Também os
direitos culturais dos indígenas são defendidos por lei.
É com
essas leis, portanto, que podemos defender os nossos direitos. Apesar de ainda
não corretamente seguido, o Estatuto do Índio é o primeiro dos muitos passos
que ainda faltam ser dados para que o índio seja realmente respeitado como
cidadão.
Mesmo com
os avanços da democracia, o Estado e o povo brasileiro ainda têm dívidas
históricas pendentes para com os povos indígenas brasileiros. Dívidas essas que
devem ser resolvidas com medidas governamentais concretas, que objetivem o
exercício pleno da cidadania indígena e sobretudo dos direitos originários dos
povos indígenas reconhecidos pela Constituição Federal.
Vamos
levantar quais dos direitos indígenas estão sendo desrespeitados e quais as
medidas poderíamos estar tomando para tentar reverter a situação?
Primeiro
é preciso conhecer a lei. Ler. Saber. Pensar...
Não
podemos cobrar aquilo que não conhecemos.
Identificar
os problemas em nossa comunidade, apontar as falhas, encaixar nas leis e
começar a reivindicar os direitos é nosso dever!
Pensando
os Direitos Indígenas
O
ordenamento jurídico brasileiro sempre pretendeu incorporar o índio à
comunidade nacional, o que é um equívoco. As Constituições Brasileiras
republicanas de 1934, até a atual, sempre enfatizaram essa recomendação. Mesmo
reconhecendo os direitos indígenas sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
as Constituições Brasileiras sempre silenciaram quanto ao reconhecimento da
organização social dos índios, de seus costumes, de sua língua, de suas crenças
e tradições. Inovando e ao mesmo tempo rompendo com esta concepção retrógrada,
a atual Constituição avança, garantindo aos povos indígenas importantíssimos direitos,
tais como o direito à organização social, aos seus costumes, ao uso de sua
própria língua e a suas crenças e tradições.
A
Sociedade Brasileira tem que, rapidamente, entender a necessidade histórica de
autodeterminação dos povos indígenas, ou então serão partícipes desse massacre
a que índios brasileiros vêm sendo submetidos.
O que
vamos fazer para que isto ocorra?
Como
mostrar à sociedade que os índios têm seus direitos garantidos e que precisam
ser respeitados?
Cidadania indígena: novos rumos à diversidade
cultural
Artigo
sobre o respeito à diversidade cultural
A
cidadania é criação dos estados modernos. Existe como forma de estabelecer
determinados direitos destinados às pessoas que residem no território estatal,
que devem ser acessados e garantidos de maneira igual e universal, no sentido
de abarcar a todos, sem discriminações que provoquem desigualdades no uso e na
afirmação dos direitos.
Esta
forma de estabelecer a cidadania, que nós podemos chamar de “comum”, foi sendo
revista ao longo dos últimos 60 anos de história da humanidade para incluir
outra forma de cidadania: a dita “diferenciada”. Esta representa a definição de
direitos específicos para determinados segmentos da sociedade, como crianças,
idosos, negros e povos indígenas, pensados a partir de suas especificidades
identitárias e vulnerabilizações sociais.
Igualdade
na diferença
Mas o que significa tratar os indivíduos e
povos indígenas como cidadãos diferenciados? Para Gersem dos Santos Luciano,
pertencente ao povo Baniwa e doutorando em Antropologia Social pela
Universidade de Brasília (UnB), significa dupla condição: garantia do acesso
aos bens e serviços da sociedade moderna, correlato ao respeito à autonomia das
culturas indígenas em relação a todos os âmbitos da organização social. Quer
dizer, da economia à religião, do sistema jurídico ao território e os modos de
representar as fases da vida, assim como do acesso a serviços que devem ser
estruturados, levando-se em conta suas especificidades culturais.
O que está em jogo é a ideia de
ressignificação das práticas e das imagens sociais difundidas historicamente
para explorar e oprimir os povos indígenas - como as de ingenuidade, selvageria
e incapacidade. É a ideia de igualdade na diferença, de inclusão do respeito à
diversidade cultural como elemento definidor de novas relações sociais. Isto
está assentado em documentos jurídicos como a Constituição Federal de 1988, a
Convenção Nº169 da Organização Internacional do Trabalho de 1989 e a Declaração
das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas de 2007.
Cidadania
diferenciada
Em
primeiro lugar, é preciso entender que esta diversidade cultural está cada vez
mais “no vizinho ao lado” do que em alguma aldeia distante de sua casa. De
acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), atualmente a população indígena residente no Brasil se localiza mais no
meio urbano do que no meio rural. Além disso, entre 1991 e 2000, o crescimento
populacional indígena foi quase sete vezes maior do que do restante dos
habitantes da nação, passando de 294.131 pessoas, em 1991, para 734.127 no ano
2000, e chegando em 2010 à marca de 817 mil pessoas.
Em segundo lugar, os indígenas participam cada
vez mais de espaços sociais onde antes eram excluídos, como as universidades,
os partidos políticos, empresas e a direção de instituições públicas e
privadas.
Em terceiro lugar, a garantia às terras
indígenas tem crescido nos últimos tempos, conjuntamente com a implementação de
políticas públicas para oferta de serviços de saúde, educação, geração de renda
e acesso à justiça, estruturadas a partir do diálogo com os parâmetros
culturais das coletividades indígenas. Isso não inibe a emergência de novos
conflitos, tensões e violações de direitos, mas sinaliza a possibilidade de
instrumentalização da cidadania como elo para ligação entre as etnias e forma
de reivindicação política pela efetivação de direitos.
Sem dúvida, a cidadania diferenciada, o
crescimento populacional e o fortalecimento político-organizacional dos povos
indígenas exigem o repensar de nossas condutas para com a diversidade cultural.
É preciso educar o olhar para a adequada compreensão das diferenças como
possibilidades de diálogo e aprendizagem mútua. Além disso, representam situações
onde podemos questionar a relativa normalidade dos valores que assumimos como
universais ou comuns.
Assis da Costa Oliveira professor da Faculdade
de Etnodesenvolvimento da Universidade Federal do Pará, Belém,
PAassisdco@gmail.com
Artigo
publicado no jornal Mundo Jovem - edição 425 - abril 2012- pag 15
Questões
para debate:
1 -
Quando falamos em cidadania, quem e quantos estão incluídos neste conceito?
2 - Por
que a necessidade de pensarmos a cidadania de forma diferenciada, de acordo com
a realidade dos envolvidos?
3 - Como
os povos indígenas estão inseridos na sociedade brasileira? E na sua realidade
local?
Sugestão
de atividade:
Objetivo:
Refletir sobre a conquista de direitos dos indígenas e a ressignificação das
imagens sociais.
Peça ao
grupo para trazer imagens de povos indígenas, da época da chegada dos
portugueses e outras contemporâneas para serem observadas.
Depois,
converse com o grupo sobre qual o
sentimento despertado a partir da observação das duas imagens? Quais mudanças
que podemos perceber e que revelam a conquista dos direitos pelos indígenas.
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