Ela é aluna de medicina, preta, da periferia e nos deu uma lição
Mirna
Moreira, 22, é estudante de medicina da UERJ
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro), é mulher, é preta, é da periferia e
tem MUITO orgulho disso. Em um post no Facebook publicado pela página Boca de Favela, seu relato viralizou e deu uma aula linda
de representatividade.
"Quando você mora na favela, é mulher preta, e
você quer chegar num determinado lugar, você precisa planejar, porque se não
você perde muito tempo batendo cabeça, e a gente não tem nem tempo, nem
dinheiro, para ficar na experimentação.
Lembro que quando me perguntavam o que eu queria
cursar e eu falava medicina, tinha gente que virava e falava: 'ah, mas você
quer isso mesmo? Você não tem cara de médica'. Uma vez numa aula no pré
vestibular, um professor entrou em algum tema de redação, que eu não lembro qual
foi, e falou: 'olha pro lado e me diz quantos negros tem nessa sala. Foi aquele
momento que todos os olhares da sala se viraram pra mim.'
O meu maior acerto foi ter assumido minha estética
enquanto mulher negra antes de entrar nesse espaço da universidade, eu entendi
que é muito importante estar ali porque existe a questão da representatividade,
que se estende para fora da academia também. Quando eu visto meu jaleco branco
e subo o Morro dos Macacos representando a instituição UERJ, como fiz em uma
ação sobre sexualidade na adolescência numa escola pública, e as meninas negras
dessa escola pedem para tirar fotos comigo, elogiam meu cabelo crespo, e de
alguma forma me veem como referência, eu só tenho mais certeza disso.
No dia dessa ação na escola eu voltei no mesmo
ônibus que uma aluna, e quando eu desci no mesmo ponto que ela aqui no
Complexo, ela perguntou: o que você tá fazendo aqui?
Ela não esperava que eu descesse aqui na favela. Eu chorei muito. Isso me marcou demais, até porque eu nunca tive uma representação física e próxima que eu pudesse me espelhar nesse campo profissional, essa mulher, negra, médica. Sabe?
Ela não esperava que eu descesse aqui na favela. Eu chorei muito. Isso me marcou demais, até porque eu nunca tive uma representação física e próxima que eu pudesse me espelhar nesse campo profissional, essa mulher, negra, médica. Sabe?
Por isso, principalmente nos espaços acadêmicos, eu
faço questão de afirmar que sou do Complexo do Lins. Esse lugar faz parte da
minha identidade. Sei da onde eu vim, quem me ajudou a chegar até aqui, e não
foi nenhum médico de formação, foi minha mãe que trabalhou como diarista por
muitos anos, meu pai que já trabalhou como pedreiro, e que sempre priorizaram
meus estudos. Eu sei quem são os pretos que construíram a base pra que hoje eu
esteja aqui hoje" -Mirna Moreira.
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